31 de dez. de 2023

ALTINHA 2Mϟ2X: I love this game!


WHO´S #1?

O caminho mais curto
é apertar o play e ver os 11 capítulos.



O mais difícil começa aqui...

Eu praticamente aprendi a andar, jogando futebol, com meu irmão. Ele sim, fissurado por bola, nasceu 1 ano antes de o Brasil ser tricampeão mundial.

Nos anos 80, já no Rio, mudamos para um condomínio no Lins - ZN que tinha uma área de lazer imensa, quase um clube de futebol ao ar livre, onde a bola rolava de manhã até a noite. Todos os dias.

Quando não havia gente suficiente para uma partida, jogávamos outras modalidades como dupla de praia, 1 toque, cruzamento, gol na caixa e controle.

Eu gostava muito de cruzamento e gol na caixa, pois treinava minha mira/chute/reflexos, mas gostava ainda mais do controle, onde todos tinham um objetivo comum de manter a bola no ar o maior tempo possível.

Se alguém dissesse que o tal controle se tornaria uma febre, não só na cidade, mas em todo país e que eu seria um dos ícones do esporte, eu diria que tudo não passaria de um sonho.

Pra começar, deixei o futebol de lado cedo, porque além de truculento, envolvia disputas de ego, reclamações, cobranças e discussões desnecessárias e isso tudo me enchia o saco.

Zico saiu de cena. Eu fiz o mesmo.

Daí fui surfar, andar de skate. Acabei o colégio e me formei designer gráfico na UFRJ.
Morei em Sampa, voltei pro Rio, quase desisti do design, voltei a morar em SP,
trabalhei numa puta agência e "sabotei" minha melhor oportunidade no mercado até então.

Voltei pro Rio disposto a viver. Mergulhei de cabeça no ócio criativo. Reencontrei meu irmão.

Criamos a guapuruvu.com e fomos parar em Ipanema. Lembro muito bem de olhar pra galera jogando altinha e não sentir a menor vontade, porque, apesar de mais dinâmico, o jogo não era muito diferente do que eu havia jogado nos anos 80.

Eu só queria voltar a desenhar. De repente, tava fazendo campanha ambiental com minha arte, em prol da praia, entre outras atividades.

E o moleque que tinha desistido da bola tão cedo, acabou a reencontrando em Ipanema.

Tive a sorte de poder "voltar",  jogando ao lado de uma das poucas meninas praticantes na época. A BBC batizou-a de Pelézinha, passando por aqui pra registrar a "febre" na cidade,

Foi numa altinha com ela e um desconhecido que tudo mudou pra mim. Eu não tinha a menor pretensão de ser um grande jogador. Tava feliz de botar a bola no ar.

O moleque, que tinha metade da minha idade, teve a péssima idéia de me mandar "mergulhar". Quando te falam isso, é porque você está atrapalhando e é bem provável que eu estivesse atrapalhando o jogo deles, mas não vi aquela "barração" com bons olhos.

"Me dá 6 meses..." joguei essa bomba e mergulhei.

Eu não só "aprendi" do jeito deles, como também comecei a puxar meus limites. E registrar.

Em maio de 2009, publico o primeiro filme no YT. O jogo? Nada demais, mas já vale pelo cenário e trilha sonora.

O segundo, "THE NEW SCHOOL - same game, but different", lançado em outubro de 2009, como já diz o nome, aponta pra uma nova direção na altinha.



Jogar e filmar vira rotina entre 2010/2011. Até surgir a idéia da websérie. Já filmávamos direto, por que não?

A WEBSÉRIE
Nosso objetivo, ou pelo menos o meu, era registrar nossa evolução e servir de referência, pra quem quisesse aprender. Além de captar flagrantes inusitados no dia a dia da praia.

Começamos a gravar em 2, mas combinamos que qualquer pessoa poderia participar, desde que soubesse jogar. Quanto mais gente envolvida, maior a propaganda....3 temporadas depois, buscando novas fórmulas, mudando nome, a audiência não chega.

Já entendemos que o mais importante é registrar. Um exemplo é o HELICÓPTERO, manobra /trick que eu inventei, captado pela primeira vez nas gravações da websérie. Ainda assim, me sinto frustrado com o resultado, afinal o objetivo que nos levou a iniciar o projeto, muitas vezes não se cumpre.

Como eu também perco horas editando, lanço o ultimato pra BC: jogamos só nós dois ou
ele dirige e edita, enquanto eu só me preocupo em jogar.


MUDA TUDO
A 4ª temporada (ALTINHA ABENÇOADOS) traz duas novidades: nós dois, jogando por 4 e uma trilha sonora nossa, feita de maneira mambembe - hoje chamam de DIY - mas que não ficou tão mal, levando em conta que tocávamos e cantávamos, o que escrevemos, num só take. No mesmo quarto.

Na base do fórceps nasceu o GUAPURUVU ATOMICO. BC, o irmão mais velho, se auto declara líder, mentor e diretor musical da banda. Todo mundo tá jogando melhor, mas com essa "responsa extra" na parte musical, ele está com o ego nas alturas.

Evoluímos e consolidamos nosso estilo em 4 temporadas. Um ciclo se fecha com merecidas férias. A websérie pausa até segunda ordem.

É a primeira vez em anos que jogamos sem qualquer preocupação e isso se reflete não só no próprio jogo, mas também no nosso astral/convivência.

Tanto que, ainda em 2015, de tão expert nos sharks e no jogo em 2, inventamos o "Dois Irmãos" - um shark, batendo de frente pro outro, devolvendo a bola pro jogo.



PXE, BC e "os próprios", executando um "Dois Irmãos"


Teoricamente, é impossível voltar com ela depois dessa trick apenas em 2, mas isso não nos impede de tentar várias vezes e dar várias risadas.

Nosso jogo está tão à frente do nosso tempo, que eu proponho uma nova temporada e já solto o nome...

ALTINHA 2020!
Gravando em HD pela primeira vez, com um IPHONE 4s e pouquíssimo espaço, o jeito é não perder tempo. É a primeira vez que filmamos com uma luz "boa"- agora é possível saber quem é quem e isso faz toda a diferença.

Na trilha sonora, o app continua, mas também existem instrumentos reais: guitarra, trompete, trombone, teclado...e isso não quer dizer que sejam bem tocados.

Decidimos não cantar - ufa! - mas acabamos "lançando" um estilo musical, ALTINHA MUSIC, com um disco de 10 tracks, todos com direito a clips - clips não, visualizers...rs, tudo filmado e editado por mim.

Perto do que fazíamos antes, o resultado final da 5ª temporada acaba agradando. Finalmente, mostramos nosso jogo e fica mais fácil aprender vendo, em 2 velocidades, outra "novidade", inspirada pela edição no YT.

BOOM!
2017 é ano que acontece tudo. A altinha explode, o Coqueirão lota. Todo mundo quer fazer bonito. Nosso jogo passa batido, mas tem gente contabilizando em cima do que vinhamos jogando há anos.

Começa a rolar um êxodo. Enquanto uns vão, lançamos mais uma campanha ambiental, pra conscientizar os novos frequentadores.

O Coqueirão é implodido. Todo mundo rala e deixam a chave do point conosco. Sem ninguém pra disputar espaço, nosso jogo dá um salto quântico.

Já tinhamos tentado gravar em 2018, mas decidimos fazer algo especial no ano que completaríamos 1 década.

VOANDO BAIXO
2019. 10 anos jogando altinha. É hora de deixar o Coqueirão pra difundir nosso estilo - a ESCOLA CARIOCA - em outras praias. E registrar!

A idéia é boa, mas nos sobrecarrega em todos os sentidos. Paramos de gravar após 10 capítulos. Só voltamos em 2020, mas acabamos parando de novo por causa da pandemia.

Os 20 capítulos, gravados entre 2019 e 2020, resumem o melhor material que já produzimos nos últimos tempos. Do jogo às questões técnicas - cenário, fotografia, luz...Também não parece óbvio, mas existe uma história.

Como há tempo de sobra, resolvo me dedicar de corpo e alma, pra criar uma identidade visual à altura do que jogamos/produzimos.

Redescubro o photoshop e mergulho de cabeça no mundo da animação. É um processo longo e complicado, e pra dificultar mais ainda, faço tudo à  moda antiga, com lápis, borracha, caneta e papel.

Sem qualquer idéia de prazo, vou matando etapa por etapa. O que eu esperava acabar em 1 ano, acaba demorando pela própria dificuldade em se fazer tudo sozinho. Só pra ter uma noção, a abertura, que não dura mais que 20 s, levou 3 meses pra ficar pronta.


Valeu pela inspiração, Filipinho!


BC já não aguenta mais esperar pelo lançamento e ainda temos que fazer a trilha sonora. Por ele, já estaríamos ensaiando e testando, mas não consigo me envolver, pois estou 100% focado em acabar o que comecei. É o processo.

Eu sei que nosso som poderia ser muito melhor se tivéssemos tempo de produzí-lo com mais calma, gravando e mixando tudo num software, como milhares de músicos fazem hoje no mundo, mas optamos por criar várias atmosferas instrumentais em algumas semanas de ensaios, que na edição, se encaixaram perfeitamente com o som das praias.

2023. Não há mais nada a fazer a não ser lançar a 6ª temporada.


Tiro o peso de um planeta das minhas costas e me sinto realizado como jogador, por fazer parte desse divisor de águas, e como designer, por ter criado algo tão especial e diferente de tudo que já foi produzido na altinha e por que não dizer, na minha vida.

Deu trabalho à vera, mas também deu prazer. Agora é com vocês!


Aperte o play e boa viagem!

20 de mar. de 2019

Pega a visão: deixar lixo na praia é a maior queimação!


Leia pra quem não pode. Seja criativx!

"Pega a visão: deixar lixo na praia é a maior queimação.
Respeite a natureza!"

#praialimpa #respeiteanatureza

4 de jan. de 2018

I love you, Maryjane!


Feliz Ano Novo! 2018 acabou de começar e veio trazendo ótimas surpresas, pelo menos pros californianos, que fizeram fila desde o primeiro dia do ano pra comprar maconha legalmente para uso recreativo (o uso medicinal foi legalizado em 1996). Projeções estimam um faturamento de pelo menos US$ 7 bilhões, isto é, um dinheirão que agora pode ser revertido em educação, saúde, segurança, etc.

Aqui no Brasil, a situação parece caminhar na direção oposta, já que os políticos de vários escalões se mostram contra a maconha, inclusive a medicinal, que avança a passos de formiguinha.

Pelo menos, ainda nos resta o direito de expressão, garantido pelo STF em 2011. Falando em STF, já existem 3 votos a favor da descriminalização do porte de maconha através do R.E 635659. Infelizmente, nada mudou nos últimos 2 anos, desde que um ministro "partiu" e o que entrou no seu lugar, continua "sentado" em cima do processo e demonstra claramente não querer mudar a situação da política de drogas no Brasil.

DESENVOLVENDO AS IDÉIAS
Foi num bate-papo enfumaçado com os irmãos do Smoke Buddies, site de informações sobre a erva, que veio a idéia de criar uma (ou várias) campanha(s) publicitária(s) pra destacar os benefícios da planta, amplamente conhecidos hoje pela internet. Seria a chance de informar sobre o potencial medicinal/industrial/comercial da maconha ao resto da população.

A primeira idéia que me veio na cabeça destacava as propriedades medicinais da erva e ao mesmo tempo, as 1001 utilidades da maconha e desenrolei-a em pequenos roughs. Dias depois, desta vez fumando um, surgiu outra, com frases de efeito ilustradas durante toda a vida de uma planta.

Criei um terceiro conceito baseado na boa convivência que eu e outros usuários temos com a erva, sobre o quanto ela nos ajuda a viver, dormir, comer e até pensar melhor.

No final das contas, percebi que todas as idéias poderiam ser concebidas num futuro bem próximo pra todo mundo ter oportunidade de ver e compartilhar por aí.

EU AMO...
I LOVE ISSO, I LOVE AQUILO. É comum ver alguém usando uma t-shirt com uma frase desse tipo designado pra qualquer coisa. Eu mesmo tive uma t-shirt branca com a frase "I LOVE THC" que todo mundo amava. Na primeira oficina de cartazes pra Marcha da Maconha que fui, vi o exato momento em que a ativista pintou sua versão em preto, vermelho e verde pra folha e foi dessa versão que acabei me aproximando. Era a síntese de tudo que eu havia pensado/desenhado/desenvolvido nas semanas anteriores.

Por coincidências da vida, eu já tinha por aqui um coração de papel, encontrado numa calçada em Copacabana e uma folha da maconha que eu mesmo confeccionei pra levar na "Marcha" de 2014 (ou seria 2015?). Enfim, essas duas peças se encontravam guardadas juntas e eu já vinha matutando algo pra fazer com elas. Vale lembrar que a folha, em vez da flor, foi usada por ser uma referência mais associada a maconha.

Do "I", eu fiz um baseado numa seda da Smoking prata e juntei aos outros dois elementos, sobre uma folha branca. Depois fotografei cada um deles separadamente e reconstruí a "frase" no photoxepa. O fundo branco foi imediatamente substituído por uma parede ainda pouco pintada daqui do studio.

O resultado já era bom, mas a "folha" da maconha tava mais praquela folha de maple (da bandeira canadense). Revirei a web atrás de uma substituta e o que encontrava, vinha acompanhada de marcas d´água. Finalmente, encontrei uma folha perfeita, mas em baixa resolução e algum texto por cima. A solução foi redesenhar tudo, repetindo os diferentes tons de pixels verdes e "voilá".

A idéia daquela ativista ganhou uma nova direção de arte - foi "revamped", como diria um amigo da Austrália.  O cartaz que desfilou na Marcha da Maconha de anos atrás - e só viu quem tava lá - virou um jpeg pra qualquer um/uma acessar e mostrar seu amor pela planta, pois no final da contas é só uma planta! LEGALIZE JÁ!


agradecimentos: STF, Smoke Buddies, Maira Guarabira, Marcha da Maconha


Veja com seus próprios olhos!

24 de out. de 2017

Altinha, web-série, documentários, graffiti, entrevista...estamos de volta!?

Só quem passa por um trauma sabe o quanto é difícil retomar as atividades. Graças a Deus, me recuperei e voltei ainda mais forte. Depois de 5 anos ininterruptos dedicados ao graffiti, dei um tempo pela primeira vez e durante essas “férias forçadas”, aproveitei pra arrumar o studio e me dedicar à música, iniciando meus aprendizados com guitarra, trompete, trombone, clarinete, escaleta, gaita, teclado e com o auxílio luxuoso de meu irmão, criei a trilha sonora do ALTINHA 20/20, o 5º ano da nossa websérie, dividido em 16 capítulos curtinhos e cheios de emoção!

https://www.youtube.com/watch?v=JQzmbludHm8&list=PLStPSM2RZ3AHzUQATTC6wiVDa8DIxVOh6


Dos ensaios desde o início do ano, demos origem ao álbum ALTINHA MUSIC, uma experiência audiovisual, onde cada música teve um clip, tudo filmado e editado por mim. Os ensaios continuaram (para a alegria dos vizinhos) e daí saiu a sequência, ALTINHA MUSIC2, com uma capa super legal ambientada em Ipanema, retratando nosso pioneirismo no jogo, num shark contra shark, já que fomos nós mesmos os primeiros a criar esse momento na história da altinha.


Com 5 anos de websérie, dois álbuns de ALTINHA MUSIC e uma capa dessas, podemos dizer que nosso nome já está feito e eternizado na história do esporte!

Falando em altinha, tive o prazer de estrelar o primeiro documentário do mundo relacionado ao esporte: “ALTINHA a documentary aboutkeeping it up” dirigido pelo competente diretor belga Jean-Marc Joseph, que não veio pra descansar durante sua primeira visita ao Brasil.

https://www.nowness.com/story/altinha-brazil-rio-superjeanmarc

Seguindo a dica de André “Zuka”, um cineasta carioca apaixonado pelo esporte, Jean-Marc deu início às gravações durante o inverno, retornando mais uma vez no verão de 2016. Apesar do meu jogo de vanguarda, apareço muito pouco com a bola no pé, mas não posso deixar de dizer o quanto essa experiência foi magnífica, levando em conta que o "doc" passou por vários festivais (Barcelona, Mallorca, Minorca, Milão e Brasil – a lista só aumenta!) antes de estrear para o grande público no site NOWNESS. Nessa onda de documentários, tive a oportunidade de ser entrevistado pela socióloga francesa Valentine Reding, que prepara um filme sobre o graffiti carioca.


O começo do fim do ano sabático deu-se primeiramente em abril, com a retomada de uma parede que já havia pintado há anos e depois de perder o espaço e esperar ansiosamente pela reforma do prédio, lancei um graffiti mais divertido, seguindo a onda dos meus primeiros graffs em caixinhas de energia. Agora, o prédio tem elefantes grafitados em cada uma de suas extremidades...


Nos últimos dias de setembro, retomei mais uma parede, lançando uma versão maior e mais bonita da arte ELECTREEC, pela segunda vez nas ruas. Foram 7 noites e uma tarde, totalizando algo entre 20 horas, para finalizar a frondosa árvore elétrica. Pra fechar com chave de ouro, saiu na TV BAND, uma matéria sobre graffiti que havia gravado semanas antes. Chegando no prédio de uma amiga, o porteiro todo sorridente falou “Pô, te vi no jornal...o cara é grafiteiro!”

É o reconhecimento chegando por todos os lados....e parece que estamos de volta!

http://noticias.band.uol.com.br/jornaldorio/videos/ultimos-videos/16327876/empresas-convidam-artistas-para-levar-vida-a-tapumes-espalhados-na-cidade.html

Agradecimentos especiais a meu irmão “Botocarioca”, Jean-Marc Joseph, André "Zuka", Valentine Reding, Miguel Sereno, Natashi Franco, Yago, Igor Rodrigues, TV BAND, Ian Marshall, Salmonella DUB


24 de ago. de 2016

O guapuruvu: olha ele aí, outra vez!


O Rio de Janeiro deve ser a primeira cidade do mundo a legalizar o graffiti, com a criação de um decreto que possibilita que artistas se expressem livremente nas ruas, sem complicações com a lei.

De acordo com o decreto 38307, assinado pelo prefeito Eduardo Paes e publicado no D.O em 18/02/2014,  toda arte na rua tem a garantia de 2 anos de permanência, exceto em caso de acidentes/obras no local.


A praça Sarah Kubsticheck, pela qual costumo passar pelo menos uma vez por semana, recebeu reformas e a árvore elétrica (do vídeo), de dezembro de 2013, sumiu do mesmo jeito que brotou. Apesar de estar completamente envolvido num novo projeto e não encontrar qualquer disposição pra grafitar naquele momento, só tinha duas escolhas: grafitar logo ou esperar a inspiração chegar e correr o risco de perder a parede.

Convidei LIU e GRATO, a dupla onipresente de Ipanema/Leblon, com seus personagens engraçadíssimos e depois de um bate-papo rápido, decidimos o que pintar. Fundo do mar foi o assunto escolhido e pensando na coluna que dá de frente pra Nossa Senhora de Copacabana, desenhei uma enguia.

A rua é cheia de surpresas e naquela madrugada, encontrei uma bicicleta estacionada num bicicletário (que eu nunca tinha reparado), exatamente diante desta coluna que eu ia pintar. Com pouca tinta e nenhuma mobilidade, deixei a enguia “guardando a vaga”. Os moleques mandaram bem, como sempre.

Voltei na madrugada seguinte, disposto a dar um capricho na arte e “me livrar” de uma vez por todas dela pra sintonizar no que eu vinha fazendo antes. Surpresa! A bicicleta continuava lá e apesar de usar uma escada maior, nem deu pra chegar perto da parede.

Bem que eu poderia voltar pra casa, mas tava cheio de tinta e sobrava espaço na pracinha. Fui pro outro lado e tentei “adaptar”  a arte da enguia numa parede infinitamente mais larga. Não deu muito certo e acabei mudando de idéia, preparando a base pra uma nova arte.

É uma árvore da Mata Atlântica, encontrada da Bahia à Santa Catarina. Muito utilizado em reflorestamentos, o Schizolobium Parahyba cresce rápido, numa média de 3 metros por ano. Vi um pela primeira vez na UFRRJ, no verão de 2007, e nas areias de Ipanema, ouvindo uma música da banda californiana Guided by Voices, materializei “O guapuruvu”, uma arte que representa a minha, a sua, a nossa conexão com a natureza, algo meio esquecido hoje em dia.

Com mais de 100 artes espalhadas por Copacabana, Ipanema e outros cantos do Rio nos últimos 6 anos, lá estava eu, pronto pra mais uma (mesmo que eu não tivesse com essa pilha toda...rs).

Era a 5ª versão de “O Guapuruvu” nas ruas e claro, teve gente fazendo reclamações ou perguntas sem sentido, mas felizmente, o mundo não é dos chatos e numa sequência aleatória de 21 dias entre maio e julho, estive por lá, vendo e sendo visto, recebendo cententas de elogios, trocando idéia com quem parava, posando pras fotos e inspirando a criançada. Algumas pararam pra observar e outras até tiveram a oportunidade de pintar (depois de muita persistência), como os alunos da rede municipal que preencheram os únicos triângulos cinza, mantidos na arte. Mais pro fim, conheci outra galerinha mais velha e um deles me perguntou se eu conhecia o PXE. Acho que foi a primeira vez que não me perguntaram se eu conhecia o ACME, referência no graffiti.

foto: Gabriel Azevedo


SOCK VIVE!


Nosso brother Michel, cria do JB e artista integrante do coletivo IDOL NO!, nos deixou no meio de junho. Tive oportunidade de grafitar com ele em 3 edições do “Que todos os muros virem telas”, evento que realizei em 2012, pra reunir a galera e pintar tapumes de obras espalhadas pela Zona Sul. Homenageei o amigo, pintando as quatro letras da sua tag, na coluna dos peixes, de frente pra Nossa Senhora.


SANTÌSSIMA TRINDADE
Durante o processo, encontrei tempo pra finalizar a arte do disco “Queen of Kings” , da minha conterrânea, a geminiana Taz Mureb e soltar uma nova versão da arte do disco “Mini Jornada Gigante” do talentoso Igor Bidi. Essas duas pérolas do RAPRJ saíram em julho e agosto, respectivamente, completando uma espécie de trilogia com diferentes personagens que conheci na Roda de Catchafire. O 3º é o lendário FolhaSeca, que lançou uma bomba no dia 11 de setembro de 2015.





O CAVALO DE DEUS
E a enguia do primeiro dia, lembra? Fiquei alguns dias descansando da pracinha, mas não do graffiti e voltei na Santa Clara, pra retocar o gato verde com todos os tons de verde que eu tinha direito (mais de 8, utilizados só no guapuruvu). Ali mesmo, conheci a Dosa, uma artista da Grécia que estava por Copacabana e de um fã da street art, ganhei um presente do Marrocos...ou seria Paquistão?

 foto: Lili Costa

De volta à pracinha, levei um rough novo com um cavalo marinho, que rabisquei enquanto pilhava meu irmão a desenhar. Tentei terminar a arte da enguia, mas acabei fazendo o cavalo-marinho, que tinha voado da minha sacola de tintas e voltou. Só podia ser o destino!
Enquanto coloria, alguém passou gritando “é o cavalo de Deus!” e quando olhei pra saber quem falava, um rasta respondeu: “tá ligado!”. A chuva e outros contratempos chegaram, esperei mais uma semana pra acabar no fim de julho aquilo que comecei no meio de maio.


Tão matando tubarão só pra arrancar a barbatana e fazer sopa...

#STOPFINNING

A arte não pára. Segue o baile...


Agradecimentos:
Às guerreiras (e ao guerreiro) da Defensoria 14ª DP – Leblon, Liu, Grato, Iuri Kramer, Igor Bidi, Taz Mureb, Rafo “Folha Seca”, Dna. Heloísa, Edvaldo e Seu Inácio, Gabriel Azevedo, Lili Costa, Copacabana Art Lovers

23 de mar. de 2016

PXE nas ruas: the busker x black apple

 

16 de março. Saí às duas horas da tarde pra pintar. Quando pus os pés na rua, a chuva chegou forte. Esperei o sinal abrir e fui num gás só, me refugiando debaixo das marquises que encontrei mas acabei completamente encharcado, só de esperar pra atravessar a Nossa Senhora. Tão perto e tão longe, dezenas de pessoas se aglomeravam diante do paredão, onde encontrei duas janelas encostadas. Abri a escada e joguei a sacola com as tintas no chão, arranquei a camisa que se grudava ao meu corpo e tratei de movimentar as janelas dali com minhas próprias mãos, mas logo apareceu o responsável, que me poupou esse trabalho.

Finalmente, subi a escada sem camisa, com algumas latas verdes pra fazer os primeiros rabiscos de spray na copa da árvore, até então no latéx. Depois do verde, subi mais uma vez com o preto e o vermelho pra fazer as maçãs. A chuva caía cada vez mais forte e quem se escondia debaixo da marquise, aproveitava pra olhar a arte mais de perto.

A esquina começou a encher até a altura do joelho e disso eu sabia porque de vez em quando virava o pescoço pra ver quem se aventurava. Logo aquela água escura foi chegando mais perto de mim, através de pequenas ondas formadas pelos veículos maiores, sempre acompanhadas pelos gritos medrosos dos que não arredavam o pé dali. Subi mais uma vez com o verde pra retocar os traços externos das maçãs. A água chegava cada vez mais perto, me obrigando a pendurar a sacola na escada. Por sorte, já não precisava movimentar tanto e concentrado num único lugar da escada, dei o acabamento no tronco da árvore com diferentes tons de marrom através do stencil em forma de triângulo.  

A chuva deu uma trégua e já não havia mais o que fazer com as tintas que eu tinha levado. Guardei tudo e saí sem fotografar, já que a rua continuava alagada. Andei pela Nossa Senhora até a Bolívar, onde encontrei um espaço menos alagado e fácil de atravessar com a sacola cheia de tintas e uma escada de 2 metros. 

Cheguei em casa 10 minutos depois e a chuva voltou a cair forte. Por volta das 17:30, as ruas estavam secas e não se via uma gota caindo do céu. Aproveitando a última luz do dia, voltei no paredão pra fotografar e remontei-o no photoshop, para planejar as próximas investidas. Repeti esse ritual nos dias seguintes e me dei conta que já vinha fazendo esse registro desde o primeiro rabisco e achei que seria válido publicar a evolução desta arte, que no final, se tornou muito mais do que eu podia imaginar.

17 janeiro (Gabi Linhares)

26 janeiro

29 janeiro

8 fevereiro

21 fevereiro

13 março

16 março

17 março

18 março

21 março

AGRADECIMENTOS FINAIS:

Walter e todo mundo da Jopar, Gabi Linhares, Henrique e todo mundo da banca BNS, a rapaziada do Kicê, Priscila Lima, Seu Inácio, Edvaldo e Dona Heloísa, Iuri Kramer, Santa Roots, Projeto Sublime e cada pessoa que passou ali pra bater um papo, elogiar ou simplesmente contemplar a arte.

Que todos os muros virem telas!

PS: Confira a primeira vez da arte "Busker" nas ruas ao som de Criolo!


 


1 de jul. de 2015

Insert coin...

Há duas semanas atrás, recebi uma mensagem do MC Folha Seca, me convidando pra fazer a arte pra capa do seu disco solo e do 3º single, a ser lançado ainda naquela semana. Pra quem não conhece, FS é o Rafo, integrante do grupo de rap Camaradas Camarão e um dos organizadores da Roda Cultural deBotafogo, movimento que virou referência e se alastrou pelo resto do Estado, projetando vários nomes na cena musical.

Muito antes desse convite, já tinha tido a chance de ouvir o disco recém gravado, quando conferi faixa a faixa, pra fazer a arte do 1º single e da capa. Fiquei bastante impressionado com todo o material que ouvi e muito feliz em fazer parte daquele “projeto”.

Folha Seca - Catch a fire

Pra já, teríamos o lançamento do 3º single, chamado “Insert Coin”. Rafo tinha uma idéia inicial relacionado a um game e deu como referência o jogo Marvel x Capcom, que eu não conhecia. Depois de uma breve pesquisa, fiz o primeiro rabisco da “tela” de um game de skate, com a clássica paisagem de Botafogo, cenário que sempre fez parte da vida de FS.


Apesar de curtir, Rafo sugeriu que tal tela estivesse “inserida” numa máquina com o nome RAP, dentro de uma cena num fliperama com dois personagens centrais: “um menor botando uma ficha de humilde e um outro personagem esperando a de fora com um sacão lotado de fichas, na verdade, um porco engravatado fumando charuto”. A viagem era perfeita e fui desenterrar momentos de minha juventude em fliperamas do Méier, que costumava freqüentar depois das aulas.



Na praia, trocamos uma nova idéia sobre a arte e em vez do game de skate, Rafo sugeriu um de luta, nos moldes do clássico “Street Fighter”. O som seria lançado pela própria fanpage, mas sugeri a criação de um evento, pra convidar os mais chegados, apostando na propaganda espontânea, devido à qualidade de todas as artes envolvidas. Pra mostrar que não era qualquer um fazendo qualquer arte, pedi pra ele me “apresentar”, fazendo um “release” sobre mim com suas próprias palavras.
 
Mandei um novo rabisco da cena no fliperama e aos poucos, fui lapidando até chegar ao resultado final, desenhado em 2 páginas de A4 coladas. Pro game, desenhei o cenário com o Pão de Açúcar e os dois personagens que lutariam, sendo um deles, o próprio Rafo, baseado numas fotos tiradas meses atrás. 


Choveu no meio da semana e o Rafo apareceu aqui no studio, trazendo o seu disco. Pra agilizar as artes que seriam usadas na animação, deixei ele se divertir no photoshop, pintando Botafogo. Aproveitando sua presença, pedi pra ele colorir seu personagem, com uma marcação básica de suas tattoos, que acabei refazendo depois. Cientes de que ainda haveria muito trabalho pela frente, jogamos o lançamento pra semana seguinte.

 
Com as telas prontas antes do fim de semana, minha nova preocupação seria animar tudo, com qualidade digital. Baixei alguns programas na tentativa de converter o filme, depois tentei baixar outros programas de edição de vídeo, sem sucesso, já que uso uma relíquia que me deixou na mão dessa vez. Comecei a ficar preocupado...

O universo é cheio de surpresas e numa dessas, consegui um laptop pra fazer o filme com um amigo que passou correndo na praia e chegou a conhecer o Folha Seca rapidamente, depois do nosso brainstorm. No dia seguinte, encontrei- o no trabalho, depois de subir algumas cenas pro primeiro teste. Aprendi algumas noções básicas do programa, salvei o primeiro filme e mandei pro Rafo. No fim de tarde, adiantei todas as telas necessárias pra tentar animar tudo no sábado, com a ajuda de Zack, que acabou indo pra outras bandas, depois de deixar seu laptop comigo.

Tomei umas surras no começo e em vez de criar um arquivo novo, usei o primeiro de todos. Tentei aprender algo mais assistindo a tutoriais, mas um deles, só me ajudou a lembrar de usar o mouse, que adiantou bastante o processo. Pra não ficar muito repetitivo, pensei numa nova cena de bônus, com o “Rafo” andando de skate. Salvei uma nova versão e mandei o link pro Rafo durante a madrugada. No domingo, refiz algumas cenas, trabalhei as telas de entrada que incluíam alguns personagens citados na música  (Stallone, Bruce Lee, Dolph Lundgren, Chuck Norris entre outros) e à noite, já tinha uma versão final, que acabava uns 20 segundos antes do fim da música.

O Rafo apareceu de novo por aqui na segunda de manhã pra subirmos o clip e nos 45 do segundo tempo, fizemos novas alterações na animação, repetindo algumas cenas pra preencher o espaço vazio no final. Salvamos a última versão e subimos o clip, além de propagar o mesmo através de suas mídias. Alguns segundos depois, a Internet caiu de vez, já que funcionários da NET iniciavam a manutenção da rede no prédio. Missão cumprida, no tempo que tinha que ser...


Folha Seca - Insert Coin


Agradecimentos especiais aos brothers Folha Seca e Zack George


22 de abr. de 2015

Nos tapumes da vida


Conheço poucos grafiteiros que dão alguma importância a um tapume. A maioria só gasta tempo e tinta no que pensam ser eterno, mesmo sabendo que a arte é passageira. No meu caso, independente do tempo de exposição, um tapume é uma parede e se der mole, vou chegar pra grafitar.


 Algumas semanas atrás passei pelo maior tapume que já vi nas ruas de Copacabana, uma estrutura de aproximadamente 5 m de largura por 13 de comprimento e uns 3 de altura. Ao ver pela primeira vez, imaginei que o cobririam de adesivos (um desperdício, algo nada ecológico!) e esperei. Passei de novo por lá na semana seguinte e só havia um adesivo grandão tomando a menor face, voltada pra Nossa Senhora de Copacabana, enquanto a lateral gigante permanecia virgem exceto por algumas pequenas pixações. 

 
Enquanto o povo saía pra afogar as mágoas na noite de sexta, eu andava em direção à Santa Clara, levando  mochila com algumas poucas tintas, látex, rolinhos e pincel, além da escada debaixo do braço. Ao chegar no pico, joguei tudo no chão, pra preparar a primeira cor. Das três artes que levei, escolhi a mais complexa e que ocuparia mais espaço no tapume, que foi tomando forma rapidamente, enquanto algumas pessoas paravam pra observar/ fotografar. Uma menininha de uns 4/5 anos  postou-se diante da arte para um registro e ao perceber, tirei a escada da frente, deixando o cenário limpo. Perguntei se ela sabia desenhar um peixe e sem titubear, respondeu que sim. Com o rolinho cheio de tinta, desenhou seu peixe que mais parecia um símbolo de infinito, numa tacada só, parando apenas pra acrescentar o olho com um ponto. Foi andando em direção ao pai e logo voltou pra agradecer. Continuei pintando e a arte já ocupava mais da metade dos 14 metros de tapume.

Os amigos do Digital Dubs passaram pela Santa Clara e pararam por um tempo. Alguns dias antes, “Nos porcos não creserão asas”, um clássico dos bailes soundsystem fora apresentado na forma de clip, com o cantor Jeru Banto, colando cartazes por toda a cidade e meu nome aparecia numa das cenas da praia de Copacabana.

#Nosporcosasasnãocrescerãojamais

A galera saiu e dois moleques de rua se aproximaram pra ver a arte. O mais novo todo empolgado, foi contido pelo mais velho e os dois sentaram-se nos cilindros de cimento da esquina e de vez em quando, trocava uma idéia com eles. O spray de contorno acabou e tive que partir pro plano B antes do esperado. Um moleque de Sampa perguntou se podia trazer umas tintas pra pintar um “grapixo”, uma mistura de letras, cores e sombras, que chamamos de “bomb” por aqui, apontando sua pixação numa porta de loja do outro lado da rua. Como não havia assinado ainda, aproveitei o espaço que faltava pra mandar meu tag em letras garrafais, ocupando toda a lateral do tapume. Se o brother de SP aparecesse, poderia pintar a outra face. O clima estava bem tranqüilo...


 PXE por Gabi (instagram.com/mexiasgabi) 

Uma confusão rolava na esquina e só ouvíamos o barulho, até que um cidadão visivelmente alcoolizado dobrou a Santa Clara, depois de ter quebrado uma lixeira e despejado lixo dos sacos que aguardavam a passagem do caminhão da Comlurb. Esbarrou no mais velho dos moleques, enquanto “emitia” uns sons em português ruim. Quebrou a segunda lixeira, jogando pra cima deles com violência.

Tentamos forçá-lo a sair nos gritos de “VAZA”, mas o cara relutava, enquanto seu amigo não movia uma palha. Conseguimos distanciá-lo alguns metros, mas ele voltou, depois de danificar um orelhão, trazendo consigo o gancho enrolado nas mãos, atrás dos moleques. Quando ele se aproximou de mim, pensei em jogar em cima dele o copo de látex preto que segurava naquele momento, mas corri em sua direção, que soltou o gancho e foi embora de vez, com um belo chute na bunda.



Os moleques aproveitaram o embalo pra sair também e a polícia, só apareceu meia hora depois, pra perguntar alguns detalhes da arte que eu fazia. Lá pelas 2h da madrugada, recolhi meu material, andei diante daquele imenso tapume, contando os passos largos. Tirei as últimas fotos e recarreguei as baterias noutra esquina bem perto dali.

 
Duas noites depois, já estava de volta às ruas. Em Ipanema, depois de lançar alguns tentáculos e arrancar quilos de cartazes, deixei um bomb pra voltar em breve. Acabei tirando os dois dias seguintes pra descansar e apenas acompanhei minha amiga Luiza, que ainda tinha suas 4 MTN 94 quase novas porém sem birros, depois dos primeiros graffitis que fizemos 2 anos atrás. Enquanto ela desenhava uma sereia, eu misturava o látex pra complementar nos preenchimentos. Descemos por volta das 21h, mas ainda voltei em casa pra pegar os birros e a escadinha.



O plano era pegar um espaço num tapume de obra na Rua Bolívar, que eu já havia pintado algumas vezes (acima). De longe, pudemos ver o segurança do lado de fora e mesmo com uma arte minha gigantesca naquela parede, não teve “desenrole”. Com a primeira cor já misturada na bandeja, partimos pra parede branca mais próxima, a de um banco na rua principal de Copacabana (essa aí do vídeo abaixo)


 
Luiza subiu na escadinha pra rabiscar os primeiros traços. Um casal parou pra olhar e parabenizou o trabalho. Apontei minha arte de longe e a moça lembrava de outra, bem perto dali. Em seguida, uma senhora parou pra conversar conosco, dizendo que gostava muito do que fazíamos pela cidade, mas sentia uma certa “falta de reconhecimento”, o que eu rebati dizendo que se ela reconhecia, já estávamos felizes.


 Nossa felicidade durou pouco, com a chegada de uma viatura, após denúncia de pixação. Tentei argumentar, mas acabamos dando um rolézinho até a 13ª DP. Os policiais de plantão já nos esperavam na entrada, onde conversamos um pouco e pude explicar quem eu era e o que fazíamos. Entramos pra uma breve verificação, constatando que nossas fichas estavam limpas. Saímos ilesos, mas avisados a não voltar na “cena” do crime. Luiza, visivelmente abalada, só queria voltar pra casa. 

Acabei a convencendo a lançar a arte de qualquer maneira, pra se livrar daquela má impressão e nos dirigimos pra Ipanema, onde havia um tapume legalizado, com uma arte minha e do brother Ogee, da Inglaterra. Entre o dog Pepe e o Afroman, surgiu uma sereia. 

 
Fui dando alguns toques e quando encontrei tempo, ocupei a lateral com alguns tentáculos. Os 4 birros que levei entupiram rapidamente e grande parte do que Luiza fez, foi no pincel/rolinho. O que sobrou da tinta, usei pra ocupar os últimos espaços brancos com triângulos. 



Tirei as últimas fotos e voltamos felizes até Copacabana, pegando a Nossa Senhora, pra ver os tentáculos que dividiam espaço com a placa em homenagem ao Junior, ex-jogador do Flamengo.


Já na rua de Luiza, a chuva começou a cair. Me despedi dela e fui correndo pra casa...

1 de dez. de 2014

PXE no MOF2014 - missão cumprida, com louvor!



Ontem foi dia de MOF – Meeting of Favela, um dos maiores, ou provavelmente, o maior evento de graffiti independente do mundo, e pela 2 ª vez estive presente. Comecei os preparativos na noite de sábado, segurando a onda em casa pra chegar bem. Mal dormi e por volta das 6h já tava de pé, partindo pro Jardim Botânico, onde encontraria a van que nos conduziria até Caxias. Por volta das 11h, já estávamos lá, encarando o sol que veio com tudo, indiferente ao casaco que só ocupava espaço na mochila.

  
Começamos subindo uma ladeira. Dois moleques da comunidade se juntaram ao nosso “bonde” e depois de verificar que andávamos sem rumo, conseguimos chegar onde tudo acontecia (subindo outra ladeira ainda mais íngrime..rs) com a ajuda dos “guias”.  Reencontrei o “Cabelo” e parte da “rapaziada” bebendo uma loura gelada em frente à arte que fiz na edição passada.


Chegando na quadra, fiquei perdido por um tempo esperando a galera se reunir pra iniciar as pinturas, mas já que ninguém chegava e nada me impedia, fui andando sozinho atrás de um pico sob o sol escaldante. Reencontrei a galera da van na mesma missão pelas ruelas e depois de algumas tentativas frustradas, me separei pra finalmente encontrar uma parede boa com um “plus”: na sombra!


A dona da casa queria uma imagem da Virgem Maria, mas acabou aceitando minha arte, quando viu o original. Fotografei a parede limpa e comecei a pintar, sem a preocupação de filmar. Dez minutos depois, ouvi uma senhora gritando lá da esquina: “Quem tá pintando na minha casa sem autorização?”.  Apontei o “JESUS” da casa ao lado, dizendo que não tinha mexido ali...rs. Infelizmente, a “treta” era comigo e Dona Noeli, filha da senhora que me autorizou, também queria a imagem da Virgem ou aceitaria algo que “dignificasse o nome da igreja”. Expliquei que ia pintar um “mergulhador” fotografando uma sereia (peito de fora...hum....), não convenci e acabei optando por cobrir meus primeiros rabiscos. Tentei, mas parei logo pra não gastar tinta nem desviar do foco, prometendo voltar.


Em cada canto, você via uma galerinha na atividade, viajando nos estilos mais variados. Encontrei o LEFE pintando “nas alturas” na rua de baixo, que já “tava em casa” e facilitou minha entrada no muro oposto. Dois grafiteiros da Zona Norte se juntaram a nós. Ikos lançou uma letra bolada na continuação da minha parede e Roma se “aventurou” no alto, lançando os rostos de Tupac e B.I.G.

 Roma

 O retratista by PXE

Arte pronta, todo mundo já relaxando pras festividades e eu me direcionando pra Rua Sepetiba. Da esquina, já via Dona Noeli e sua mãe, sentadas em frente à casa. Falei que tardava mais não falhava e ela disse  “que o irmão iria aparecer, Jesus não ia falhar”, depois de ter recusado várias propostas pra pintar sua parede, que agora tinha um extra de amarelo.

Tentei cobrir por um tempo, mas me convenci que seria melhor fazer uma arte pra elas. A virgem Maria foi a primeira cotada ( de novo), mas recusei explicando que não era minha praia, cada artista tinha um estilo e se dedicava a temas variados, que eu gostava de desenhar a natureza, árvores, etc. Ela se interessou por uma paisagem com árvore acompanhada de algum salmo e foi buscar uma referência em casa. Logo na entrada, vi um desses calendários de igreja com a imagem de uma pomba branca, que meia hora depois já tomava a parede. Tivemos um papo bacana durante todo tempo que estive lá, sempre tratado como “irmão”. Me ofereceram pipoca e refrigerante, que bebi no final, contemplando a arte sentado na rua, enquanto aproveitava pra comer pela primeira vez. 

PEACE!

De repente, um filete d´água caiu do céu, avisando que a caixa estava cheia. Uma língua se fez no chão, descendo a ladeira em minha direção, passando bem perto sem me atingir. Dona Noeli avisou: “Cuidado, irmão. Olha a água!” respondido com muito bom humor: “A água passou longe. Jesus tem poder!”. Me despedi das duas senhoras e desci a ladeira, com aquela sensação de missão cumprida. Fui pra festa, reencontrei toda a galera e zoei um bocado até umas 21h, quando juntamos o bonde da van. Quarenta minutos depois, estava descendo no BG, o outro lado da cidade, outra realidade. Todo pintado...

Agradecimentos a Bobi, Kajaman, Lua, Schwenk, Wilder, família Silva, famíla Torres, Dona Noeli e sua mãe, Fiuz, Lefe, o piloto e geral da van!