De acordo com o decreto 38307, assinado pelo prefeito Eduardo
Paes e publicado no D.O em 18/02/2014, toda arte na rua tem a garantia de 2 anos
de permanência, exceto em caso de acidentes/obras no local.
A praça Sarah Kubsticheck, pela qual costumo passar pelo
menos uma vez por semana, recebeu reformas e a árvore elétrica (do vídeo), de dezembro de 2013, sumiu do mesmo jeito que brotou. Apesar de estar completamente envolvido num novo projeto e não
encontrar qualquer disposição pra grafitar naquele momento, só tinha duas
escolhas: grafitar logo ou esperar a inspiração chegar e correr o risco de perder
a parede.
Convidei LIU e GRATO, a dupla onipresente de Ipanema/Leblon,
com seus personagens engraçadíssimos e depois de um bate-papo rápido, decidimos
o que pintar. Fundo do mar foi o assunto escolhido e pensando na coluna que dá de frente
pra Nossa Senhora de Copacabana, desenhei uma enguia.
A rua é cheia de surpresas e naquela madrugada, encontrei
uma bicicleta estacionada num bicicletário (que eu nunca tinha reparado), exatamente diante desta coluna que eu ia pintar. Com
pouca tinta e nenhuma mobilidade, deixei a enguia “guardando a vaga”. Os
moleques mandaram bem, como sempre.
Voltei na madrugada seguinte, disposto a dar um capricho na
arte e “me livrar” de uma vez por todas dela pra sintonizar no que eu vinha
fazendo antes. Surpresa! A bicicleta continuava lá e apesar de usar uma escada
maior, nem deu pra chegar perto da parede.
Bem que eu poderia voltar pra casa, mas tava cheio de tinta
e sobrava espaço na pracinha. Fui pro outro lado e tentei “adaptar” a arte da enguia numa parede infinitamente
mais larga. Não deu muito certo e acabei mudando de idéia, preparando a base
pra uma nova arte.
É uma árvore da Mata Atlântica, encontrada da Bahia à Santa
Catarina. Muito utilizado em reflorestamentos, o Schizolobium Parahyba cresce
rápido, numa média de 3 metros por ano. Vi um pela primeira vez na UFRRJ, no verão de 2007, e nas areias de Ipanema,
ouvindo uma música da banda californiana Guided by Voices, materializei “O
guapuruvu”, uma arte que representa a minha, a sua, a nossa conexão com a
natureza, algo meio esquecido hoje em dia.
Com mais de 100 artes espalhadas por Copacabana, Ipanema e
outros cantos do Rio nos últimos 6 anos, lá estava eu, pronto pra mais uma
(mesmo que eu não tivesse com essa pilha toda...rs).
Era a 5ª versão de “O Guapuruvu” nas ruas e claro, teve
gente fazendo reclamações ou perguntas sem sentido, mas felizmente, o mundo não
é dos chatos e numa sequência aleatória de 21 dias entre maio e julho, estive
por lá, vendo e sendo visto, recebendo cententas de elogios, trocando idéia com
quem parava, posando pras fotos e inspirando a criançada. Algumas pararam pra
observar e outras até tiveram a oportunidade de pintar (depois de muita
persistência), como os alunos da rede municipal que preencheram os únicos triângulos
cinza, mantidos na arte. Mais pro fim, conheci outra galerinha mais
velha e um deles me perguntou se eu conhecia o PXE. Acho que foi a primeira vez
que não me perguntaram se eu conhecia o ACME, referência no graffiti.
Nosso brother Michel, cria do JB e artista integrante do coletivo IDOL NO!, nos deixou no meio de junho. Tive oportunidade de grafitar com ele em 3 edições do “Que todos os muros virem telas”, evento que realizei em 2012, pra reunir a galera e pintar tapumes de obras espalhadas pela Zona Sul. Homenageei o amigo, pintando as quatro letras da sua tag, na coluna dos peixes, de frente pra Nossa Senhora.
SANTÌSSIMA TRINDADE
Durante o processo, encontrei tempo pra finalizar a arte do
disco “Queen of Kings” , da minha conterrânea, a geminiana Taz Mureb e soltar
uma nova versão da arte do disco “Mini Jornada Gigante” do talentoso Igor Bidi.
Essas duas pérolas do RAPRJ saíram em julho e agosto, respectivamente,
completando uma espécie de trilogia com diferentes personagens que conheci na
Roda de Catchafire. O 3º é o lendário FolhaSeca, que lançou uma bomba no dia 11
de setembro de 2015.
O CAVALO DE DEUSE a enguia do primeiro dia, lembra? Fiquei alguns dias descansando da pracinha, mas não do graffiti e voltei na Santa Clara, pra retocar o gato verde com todos os tons de verde que eu tinha direito (mais de 8, utilizados só no guapuruvu). Ali mesmo, conheci a Dosa, uma artista da Grécia que estava por Copacabana e de um fã da street art, ganhei um presente do Marrocos...ou seria Paquistão?
foto: Lili Costa
De volta à pracinha, levei um rough novo com um cavalo
marinho, que rabisquei enquanto pilhava meu irmão a desenhar. Tentei terminar a
arte da enguia, mas acabei fazendo o cavalo-marinho, que tinha voado da minha
sacola de tintas e voltou. Só podia ser o destino!
Enquanto coloria, alguém passou gritando “é o cavalo de
Deus!” e quando olhei pra saber quem falava, um rasta respondeu: “tá ligado!”. A
chuva e outros contratempos chegaram, esperei mais uma semana pra acabar no fim
de julho aquilo que comecei no meio de maio.
Agradecimentos:
Tão matando tubarão só pra arrancar a barbatana e fazer sopa...
#STOPFINNING
A arte não pára. Segue o baile...
Agradecimentos:
Às guerreiras (e ao guerreiro) da Defensoria 14ª DP – Leblon, Liu, Grato, Iuri Kramer, Igor Bidi, Taz Mureb, Rafo “Folha
Seca”, Dna. Heloísa, Edvaldo e Seu Inácio, Gabriel Azevedo, Lili
Costa, Copacabana Art Lovers
Nenhum comentário:
Postar um comentário