Ontem foi dia de MOF – Meeting of Favela, um dos maiores, ou provavelmente, o
maior evento de graffiti independente do mundo, e pela 2 ª vez estive presente.
Comecei os preparativos na noite de sábado, segurando a onda em casa pra chegar
bem. Mal dormi e por volta das 6h já tava de pé, partindo pro Jardim Botânico,
onde encontraria a van que nos conduziria até Caxias. Por volta das 11h, já
estávamos lá, encarando o sol que veio com tudo, indiferente ao casaco que só
ocupava espaço na mochila.
Começamos subindo uma ladeira. Dois moleques da comunidade
se juntaram ao nosso “bonde” e depois de verificar que andávamos sem rumo,
conseguimos chegar onde tudo acontecia (subindo outra ladeira ainda mais
íngrime..rs) com a ajuda dos “guias”. Reencontrei o “Cabelo” e parte da “rapaziada” bebendo
uma loura gelada em frente à arte que fiz na edição passada.
Chegando na quadra, fiquei perdido por um tempo esperando a
galera se reunir pra iniciar as pinturas, mas já que ninguém chegava e nada me
impedia, fui andando sozinho atrás de um pico sob o sol escaldante. Reencontrei
a galera da van na mesma missão pelas ruelas e depois de algumas tentativas
frustradas, me separei pra finalmente encontrar uma parede boa com um “plus”:
na sombra!
A dona da casa queria uma imagem da Virgem Maria, mas acabou
aceitando minha arte, quando viu o original. Fotografei a parede limpa e
comecei a pintar, sem a preocupação de filmar. Dez minutos depois, ouvi uma
senhora gritando lá da esquina: “Quem tá pintando na minha casa sem
autorização?”. Apontei o “JESUS” da casa
ao lado, dizendo que não tinha mexido ali...rs. Infelizmente, a “treta” era
comigo e Dona Noeli, filha da senhora que me autorizou, também queria a imagem
da Virgem ou aceitaria algo que “dignificasse o nome da igreja”. Expliquei que
ia pintar um “mergulhador” fotografando uma sereia (peito de fora...hum....),
não convenci e acabei optando por cobrir meus primeiros rabiscos. Tentei, mas
parei logo pra não gastar tinta nem desviar do foco, prometendo voltar.
Em cada canto, você via uma galerinha na atividade, viajando
nos estilos mais variados. Encontrei o LEFE pintando “nas alturas” na rua de
baixo, que já “tava em casa” e facilitou minha entrada no muro oposto. Dois
grafiteiros da Zona Norte se juntaram a nós. Ikos lançou uma letra bolada na
continuação da minha parede e Roma se “aventurou” no alto, lançando os rostos
de Tupac e B.I.G.
O retratista by PXE
Arte pronta, todo mundo já relaxando pras festividades e eu
me direcionando pra Rua Sepetiba. Da esquina, já via Dona Noeli e sua mãe,
sentadas em frente à casa. Falei que tardava mais não falhava e ela disse “que o irmão iria aparecer, Jesus não ia
falhar”, depois de ter recusado várias propostas pra pintar sua parede, que
agora tinha um extra de amarelo.
Tentei cobrir por um tempo, mas me convenci que seria melhor
fazer uma arte pra elas. A virgem Maria foi a primeira cotada ( de novo), mas
recusei explicando que não era minha praia, cada artista tinha um estilo e se
dedicava a temas variados, que eu gostava de desenhar a natureza, árvores, etc.
Ela se interessou por uma paisagem com árvore acompanhada de algum salmo e foi
buscar uma referência em casa. Logo na entrada, vi um desses calendários de
igreja com a imagem de uma pomba branca, que meia hora depois já tomava a
parede. Tivemos um papo bacana durante todo tempo que estive lá, sempre tratado
como “irmão”. Me ofereceram pipoca e refrigerante, que bebi no final, contemplando
a arte sentado na rua, enquanto aproveitava pra comer pela primeira vez.
PEACE!
De repente, um filete d´água caiu do céu,
avisando que a caixa estava cheia. Uma língua se fez no chão, descendo a
ladeira em minha direção, passando bem perto sem me atingir. Dona Noeli avisou:
“Cuidado, irmão. Olha a água!” respondido com muito bom humor: “A água passou
longe. Jesus tem poder!”. Me despedi das duas senhoras e desci a ladeira, com
aquela sensação de missão cumprida. Fui pra festa, reencontrei toda a galera e zoei
um bocado até umas 21h, quando juntamos o bonde da van. Quarenta minutos
depois, estava descendo no BG, o outro lado da cidade, outra realidade. Todo
pintado...
Agradecimentos a Bobi, Kajaman, Lua, Schwenk, Wilder, família Silva,
famíla Torres, Dona Noeli e sua mãe, Fiuz, Lefe, o piloto e geral da van!
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