20 de mai. de 2014

Desmascarando um gigante global

A história dessa arte começa muito antes de existir uma parede. Enquanto a obra rolava, um tapume preto cobria tudo. Lancei um graff que ficou até o fim, dando lugar a uma parede que não existia antes e que na minha visão, se tratava de um novo suporte para minha arte.


Algum tempo depois, descobri que aquele espaço se tratava de uma loja da Nike, ou um “Nike Space”, como canta o grande cantor/compositor/filósofo pernambucano Fred 04. Podia ser até da Nasa, eu ia pintar de qualquer jeito! Passei algumas horas antes de partir com as tintas e descobri uma “escolta armada”, encostada na parede. Não entendi o porquê daquilo tudo, mas adiei a pintura por um tempo, sabendo que a escolta não saía de lá à noite, independente do dia. Deixei de lado...

No Dia das Mães, passei ali por volta de meio-dia em direção à feira. Quando vi que a escolta não estava por lá, me apressei pra voltar naquela parede o mais rápido possível.

 

Por volta das 16:20, dei início à arte “O guapuruvu”, pela 4ª vez nas ruas. Utilizando rolinho e latéx, fiz a base pro spray. Nada da escolta, enquanto um ou outro parava pra ver, falar algo e fotografar. Três horas depois, já sem luz, passei em casa pra comer algo e pegar mais tinta. Voltando, a uns 100 metros do Nike Space, já conseguia ver o “bico” do carro, estacionado ao lado da parede.


No dia seguinte, passei na loja pra falar com o gerente. Fui atendido por outra pessoa e acabei mostrando o graffiti pra ele, que não havia notado ainda. Falei de mim e do meu trabalho, mostrei algumas artes minhas que havia fotografado indo pra lá. Ele até elogiou, mas disse que não poderia me autorizar, então saquei uma filipeta onde anotei as hashtags usadas pela Nike nos últimos dias (#Ouseserbrasileiro, #Arrisquetudo, #Arteataque) e falei:

  “Ousei ser brasileiro, arrisquei tudo e fiz um arte ataque aqui. Só fiz o que a Nike prega!”

Ele me olhou com um sorriso meio amarelo e disse que não era o gerente. Entramos de novo pra que eu pudesse falar com o verdadeiro gerente, mas ele seria entrevistado e logo viria a hora do almoço, etc. Preferi ir à praia e deixei pra resolver o assunto no domingo seguinte. Voltando à feira, encontrei a escolta lá desde cedo e minha arte, praticamente apagada, como se tivessem lixado a parede.

Uns dez dias antes, a própria Nike promoveu o evento #ArteAtaque, reunindo duplas de grafiteiros para pintar o Terreirão do Samba com o tema Samba x Futebol, com ampla distribuição de latas (100 por dupla) e premiação de R$ 5000.

Não estou revoltado por terem apagado minha arte, porque sei que isso faz parte do jogo. Mas ao mesmo tempo, consegui descobrir na prática que a Nike é uma empresa tão engessada quanto à padaria do Seu Manoel da esquina e que seus slogans inspiradores forjados a milhões de dólares por criativos, não refletem a atitude de seus donos e representantes.

Quando a loja fechar/acabar, eu volto pra lançar minha arte! Enquanto isso, divirta-se com o mais novo vídeo do PXE e a trilha sonora mais que perfeita de Mundo Livre S/A.


 Agradecimentos especiais a Mundo Livre S/A.


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