Algum tempo depois, descobri que aquele espaço se tratava de
uma loja da Nike, ou um “Nike Space”, como canta o grande
cantor/compositor/filósofo pernambucano Fred 04. Podia ser até da Nasa, eu ia pintar de qualquer jeito! Passei algumas horas antes de partir com as tintas e descobri uma “escolta
armada”, encostada na parede. Não entendi o porquê daquilo tudo, mas adiei a
pintura por um tempo, sabendo que a escolta não saía de lá à noite,
independente do dia. Deixei de lado...
No Dia das Mães, passei ali por volta de meio-dia em direção
à feira. Quando vi que a escolta não estava por lá, me apressei pra voltar
naquela parede o mais rápido possível.
Por volta das 16:20, dei início à arte “O guapuruvu”, pela
4ª vez nas ruas. Utilizando rolinho e latéx, fiz a base pro spray. Nada da
escolta, enquanto um ou outro parava pra ver, falar algo e fotografar. Três
horas depois, já sem luz, passei em casa pra comer algo e pegar mais tinta. Voltando, a
uns 100 metros do Nike Space, já conseguia ver o “bico” do carro, estacionado
ao lado da parede.
No dia seguinte, passei na loja pra falar com o gerente. Fui
atendido por outra pessoa e acabei mostrando o graffiti pra ele, que não havia
notado ainda. Falei de mim e do meu trabalho, mostrei algumas artes minhas que
havia fotografado indo pra lá. Ele até elogiou, mas disse que não poderia me autorizar, então
saquei uma filipeta onde anotei as hashtags usadas pela Nike nos últimos dias (#Ouseserbrasileiro, #Arrisquetudo, #Arteataque) e falei:
“Ousei ser brasileiro, arrisquei tudo e fiz um arte ataque
aqui. Só fiz o que a Nike prega!”
Ele me olhou com um sorriso meio amarelo e disse que não era
o gerente. Entramos de novo pra que eu pudesse falar com o verdadeiro gerente,
mas ele seria entrevistado e logo viria a hora do almoço, etc. Preferi ir à
praia e deixei pra resolver o assunto no domingo seguinte. Voltando à feira,
encontrei a escolta lá desde cedo e minha arte, praticamente apagada, como se
tivessem lixado a parede.
Uns dez dias antes, a própria Nike promoveu o evento
#ArteAtaque, reunindo duplas de grafiteiros para pintar o Terreirão do Samba
com o tema Samba x Futebol, com ampla distribuição de latas (100 por dupla) e
premiação de R$ 5000.
Não estou revoltado por terem apagado minha arte, porque sei
que isso faz parte do jogo. Mas ao mesmo tempo, consegui descobrir na prática que a Nike é
uma empresa tão engessada quanto à padaria do Seu Manoel da esquina e que seus
slogans inspiradores forjados a milhões de dólares por criativos, não refletem a atitude de seus donos e representantes.
Quando a loja fechar/acabar, eu volto pra lançar minha arte! Enquanto isso, divirta-se com o mais novo vídeo do PXE e a trilha sonora mais que perfeita de Mundo Livre S/A.
Agradecimentos especiais a Mundo Livre S/A.
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